Eu tenho transtornos mentais
Saúde

Eu tenho transtornos mentais

Oi, me chamo Simone, tenho 30 anos e eu tenho transtornos mentais. Para ser mais específica, tenho Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de Personalidade com Instabilidade Emocional, também conhecido como Síndrome de Borderline.

Desde que me entendo por gente, me considero uma pessoa ansiosa, mas nunca acreditei que fosse algo muito sério, que merecia atenção. Acontece que tudo foi mudando a partir dos meus 20 anos, quando eu precisei fazer o meu segundo transplante de córnea. Sim, sou uma pessoa transplantada! Eu tive a minha primeira crise de ansiedade grave na pré-sala do centro operatório. A enfermeira me pediu para vestir a roupa específica para a cirurgia e eu entrei em pânico. Não queria me trocar e muito menos entrar na sala e passar pelo transplante. Minha tia tentou me acalmar como pôde e ligou pra minha mãe, que havia ficado em Recife. Depois de muita conversa com minha mãe, finalmente acalmei e entrei para a sala da cirurgia. Foram as horas mais desgastantes da minha vida, pois a ansiedade era tão grande que o sedativo sequer fez efeito. Passei duas horas e meia acordada e, consequentemente, nervosa com o tempo do procedimento. Horas depois, eu sentia calafrios internamente, não sabia explicar, mas era uma tremedeira que vinha de dentro pra fora. Eu achei que morreria naquela noite.

Eu tenho transtornos mentais

Os anos passaram e eu acreditava estar bem, até que passei por uma experiência bem ruim com um namoro tóxico e abusivo e tudo veio à tona. Eu sentia a necessidade de ter ajuda médica, mas não conseguia confiar em nenhum profissional, pois na adolescência, a psicóloga que me atendia contava algumas coisas que eu falava nas sessões para os meus pais. O sigilo entre médico e paciente simplesmente não existia! Fiz sessões de teste com algumas psicólogas e nunca gostava, quando simpatizei com uma e consegui me abrir como deveria, ela saiu do país. Resolvi então esquecer esse papo de terapia e seguir minha vida focando em trabalho e estudos, mas o meu comportamento não era comum, aconteciam coisas que me deixavam mal por muitos dias. Eu não sabia superar com facilidade.

Eis que passei por outra grande mudança, larguei casa, família, emprego e amigos em Recife e vim morar e trabalhar em São Paulo. Toda a minha vida mudou e eu tive a sorte de já desembarcar com casa e emprego garantidos. Porém, o emprego não deu muito certo e fiquei quatro longos meses na incerteza se permaneceria aqui. Foram noite de crise, muitos pensamentos negativos e nada de procurar tratamento. Consegui um emprego maravilhoso e quando tudo parecia estar bem, tive problemas na moradia. Mais crises, mais desespero e ainda assim, nada de tratamento. Eu realmente acreditava que era capaz de aguentar tudo sozinha. Eu acreditava que sabia controlar minhas crises por já ter experiência.

Só em janeiro desse ano, após meses com a minha pior crise da dermatite atópica, que desencadeava crises de ansiedade, eu tomei coragem e fui ao psiquiatra. Na verdade, uma das minhas melhores amigas marcou a consulta pra mim. Foi quando descobri que, além do Transtorno de Ansiedade Generalizada, descoberto em meados de 2014, eu também tenho Síndrome de Borderline. Trata-se de um distúrbio psiquiátrico afeta até 6% da população e aumenta o risco de suicídio. Sabendo disso, recebi prescrição para fazer psicoterapia e tomar uma medicação para controlar a minha ansiedade e a compulsão alimentar, que é um sintoma de ambos os transtornos. Ainda tenho minhas crises, mas agora eu entendo que todas as vezes que fui grossa sem querer e fiquei mal com isso, na verdade era o borderline. Perdi a vergonha de falar para as pessoas que preciso de ajuda, perdi o medo de sair e ter crises, porque sei que terá alguém cuidando de mim.

Eu estou em tratamento há quase 15 dias, ainda sigo na saga da terapia, mas caminho para uma melhora.

Nascida em São Paulo e criada em Recife, pisciana, publicitária, fotógrafa, viciada em seriados, tatuagens, tênis e apaixonada por azul.

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