Não, você não quer a mina negra!
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Não, você não quer a mina negra!

Não, você não quer a mina negra.
Sinto muito.
E quando quer, é a mina de corpo padrão, pele sem mancha e cabelo grande. Sabe o que é isso? Fetiche. É sim!

Mas eu não sou padrãozinho assim e estou longe de ser. Chegar a essa conclusão foi muito doloroso, porque eu finalmente enxerguei que dificilmente voltarei a ter um namorado ou até mesmo um marido, posso até estar enganada, mas atualmente tenho esse pensamento. Então, eu me olho diariamente no espelho e repito “tudo bem, não é culpa sua”. Pode não ser minha culpa agora, mas já foi. E muito.

Eu cresci cercada de muitos brancos. Eu via na escola, nos livros e nos filmes, que o homem branco era o príncipe encantado. Eu aprendi a desejar o branco, porque assim, eu poderia ter filhos mestiços, daqueles que todo mundo admira, compartilha fotos e vídeos nas redes sociais e acha a coisa mais linda do mundo. Mas existia um problema. O branco não me queria de verdade. Homem branco só se apaixonava por mulher negra em histórias da Disney, na vida real ele queria mesmo era a mulher branca e de corpo padrão. É, o branco cresce aprendendo que a negra é a mulher da cama, é o fetiche pelos cachos, pelo quadril largo, pela crença antiga de que a negra é puro fogo na cama. Mas me perdoe, não sou seu objeto de desejo.

Você precisa entender que mulher preta pode ter pele clara ou retinta, ser gorda ou magra, ter cabelo cacheado, crespo, trançado, raspado ou até mesmo alisado. A pele da mulher preta costuma ter manchas, sim, mas isso não a torna menos bonita, menos sensual, menos atraente. Seu corpo nem sempre é dentro do padrão imposto por essa sociedade doente e machista, muitas vezes são corpos volumosos ou até mesmo corpos gordos, mas tão maravilhosos como os corpos magros. Qual a dificuldade de enxergar a beleza na variedade? Quem determinou o que pode ser bonito e o que não pode?

Aprendi a enxergar beleza em mim, propago isso para as minas que conheço e não vou permitir mais que nenhum homem diga o contrário. Então, antes de abrir a boca falando que adora morenas, pretinhas ou mulatas, senta, reflete se isso é fetiche e aceita que mulheres não são iguais nem por dentro e nem por fora.

Nascida em São Paulo e criada em Recife, pisciana, publicitária, fotógrafa, viciada em seriados, tatuagens, tênis e apaixonada por azul.

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